sexta-feira, 2 de julho de 2010

A realidade nas fábulas e a ilusão na vida real

“A felicidade não pode se alimentar apenas das recordações do passado, necessita também dos sonhos do futuro.”

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Ontem terminei de de ler esta pequena fábula e esbarrei nesta frase, que é uma verdadeira preciosidade.

O livro é uma história de amor entre um Gato e uma Andorinha, o que faz antever um final trágico, mas como era, supostamente, um conto infantil, pensei: “Ah... isto nas fábulas tudo é possível, por isso deve ter acabar bem”. Qual quê... Dei comigo no comboio, a ler as últimas páginas e a controlar-me para não desatar ali a chorar! Pobre Gato... Pobre Andorinha... É incrível como as fábulas conseguem ser cruéis para criaturas tão doces... Assim como há pessoas (neste caso, mulheres) capazes de se iludir de que um dia vão encontrar Príncipes Encantados e viver felizes para sempre! Como diz a mãe de uma amiga minha, que já viveu e ouviu muita coisa: "Queres um Príncipe? E onde é que está a Princesa?..."

De facto, a felicidade não sobrevive apenas de recordações, ela precisa sempre de novas experiências e de sonhos. O passado pode alimentá-la uns tempos, enquanto há a esperança de que o que já aconteceu se repita. Quando caímos na realidade e percebemos que o que foi não volta a ser, aí não há recordações de felicidade que possam anular a dor que sentimos. Aliás, arrisco-me a admitir que nesse momento as lembranças até nos magoam mais, são laminas no nosso espírito debilitado.

Depois de batermos lá no fundo da dor, começa então o caminho de volta, sempre em ascensão. Até que um dia, estamos felizes, simplesmente porque estamos. Reaprendemos a dar valor à vida, aos amigos, à família, às viagens, aos livros, ao cinema... Enfim, a tudo aquilo que nos faz sentir bem.

Uma coisa é certa, ao contrário do que acontece na história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá, já ninguém morre de amor... As relações frustradas tornam-nos realmente mais fortes, e ao fim de umas quantas, começamos a perceber o que queremos, o que precisamos, e o que estamos dispostas ou não a aguentar num companheiro.

Como diz o ditado, “A pressa é inimiga da perfeição”, por isso, deixo um conselho: enquanto o vosso Homem 10 não chegar, vão aproveitando para sofrer algumas desilusões e usem isso a vosso favor. O que não nos mata torna-nos mais fortes, mais espertas e mais exigentes! No meu caso até mais atraente, já que a desilusão amorosa era sempre acompanhada de perda de apetite, e consequentemente de peso! Eh eh...

Ou seja, há que ver sempre o lado bom da vida, se uma relação não resulta, mais vale pensar que é a nossa oportunidade de encontrarmos alguém que nos mereça, do que pensar que vamos ficar sozinhas para todo o sempre (e mesmo isso parece-me preferível a estar com um troglodita das montanhas que não nos dá valor)!

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