ALICE
Porque é que fizeste isto?
ANNA
Eu apaixonei-me por ele, Alice.
ALICE
Isso é a frase mais estúpida que há no mundo. "Apaixonei-me". Como se não pudesses fazer nada contra isso. Há um momento, há sempre um momento em que nós podemos fazer qualquer coisa, podemos ceder ou podemos resistir. Não sei quando é que isso aconteceu contigo, mas aposto que aconteceu.
ANNA
Sim, aconteceu.
Este diálogo entre duas mulheres, a primeira traída pelo namorado com a segunda, foi retirado da peça de teatro Closer, escrita por Patrick Marber.
Foi o último livro que li, acabei de lê-lo hoje de manhã, no comboio. Comprei-o este ano, na Feira do Livro, na banca de um alfarrabista.
Levado ao cinema, com a Natalie Portman no papel de Alice, Julia Roberts como Anna, Jude Law na pele de Dan e Clive Owen interpretando Larry, Closer foi um filme quem me marcou e que ainda hoje vejo com o mesmo interesse. Está, provavelmente, na minha lista "Top 10" de filmes (ora aí está uma lista que ainda não fiz...). Gosto sobretudo pela densidade e realismo das personagens, as suas vidas banais, semelhantes às nossas, os mesmos medos e angústias. Gosto porque nos coloca em confronto com o nosso próprio interior, com aquilo que somos, o que queremos e o que estamos dispostos a fazer para o alcançar, neste caso concreto no universo dos relacionamentos amorosos.
Esta cena entre Alice e Anna é tão crua. Eu própria penso assim, revejo-me naquelas palavras: "há sempre um momento em que podemos fazer qualquer coisa". É verdade! Há sempre um ponto de viragem, todos nós o sabemos, cá dentro. E quem não sabe, é porque ainda não se descobriu, não se conhece...
Em todos os meus relacionamentos, ou nos que nem chegaram a existir, houve sempre esse momento, em que nos atiramos ou não para o abismo. Acho que me lembro de todos eles (também não foram assim tantos!). Lembro-me das vezes em que avancei e apaixonei-me e de outras em que dei o passo atrás.
Acredito que sim, que há sempre escolha, não somos inocentes e é bom que saibamos o que queremos, porque os erros pagam-se caro e com a pior das moedas, o sofrimento.
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