terça-feira, 10 de agosto de 2010

Inception: a arte de manipular as massas

"What is the most resilient parasite? An Idea!"

Sim, ontem fui ver o Inception, esse filme endeusado de que toda a gente parece gostar mas sem me conseguir explicar porquê...

Eu sei o porquê! É porque a única coisa coerente no meio de 143 minutos de filme é o conceito de que “uma ideia é o parasita mais resistente que existe!”. Aí reside a ironia deste filme: é que de facto, a máquina cinematográfica americana, aquela que produz blockbusters como o Titanic e o Avatar, conseguiu manipular o público, incutindo-lhe a ideia de que este é um bom filme... Uns hão-de defender que tem uns excelentes efeitos especiais, não deixa de ser verdade, mas não é isso que faz um bom filme... Outros irão salientar a qualidade do elenco, que, a meu ver, apesar dos nomes sonantes, a qualidade deixa um pouco a desejar... Há ainda quem considere a história genial e muito original, o que é totalmente questionável...

Confesso que, para mim, Inception não passou de um grande flop! Muita parra e pouca uva! Muitos efeitos para uma história tão pobre e mal contada... Pareceu-me uma reinvenção de Matrix, em que até arranjaram um actor que dá uns ares ao Keanu Reeves, falo do Joseph Gordon-Levitt (Arthur), de quem me lembro, ainda miúdo, na sitcom O 3º Calhau a contar do Sol.

Saí de lá a pensar nesse grande filme que é o Heat – Cidade sob Pressão, com o Al Pacino na pele de polícia e o Robert De Niro na de bandido. Um bandido a sério, daqueles que faz do crime o seu full-time job. Isso sim, é uma personagem forte e marcante. Teria sido mais enriquecedor ter um protagonista assim: frio, calculista, ambicioso, que se esforça por ser o melhor e mais profissional naquilo que faz, mesmo que isso seja um crime.

Mas em vez disso, vemos o Leonardo DiCaprio (Cobb) como um pobre coitado, que teve o azar de arranjar uma mulher maluca, que lhe deu cabo da vida e da sanidade mental... Onde é que eu já vi isto? Ah, já sei! Foi no Shutter Island, essa também grande banhada cinematrográfica! Esperem lá que ainda me faz lembrar mais qualquer coisa... Hum... Deixem-me pensar... É isso mesmo: Revolutionary Road, esse sim, um filme com um argumento credível! Parece que desde que descobriram que o rapaz já tem barba, só lhe oferecem papéis de viuvinho e paizinho desgraçado!

Coitadinho do herói! Ou anti-herói, como preferirem... Cobb anda fugido à polícia norte-americana, graças à sua maquiavélica mulher, que o incriminou antes de se suicidar, e por isso não pode regressar para perto dos filhos, que vivem nos EUA. Claro que, de vez em quando, podiam ir estes à Europa ao encontro do pai... Afinal, com um avô a viver em Paris, há sempre a desculpa de levar as crianças à EuroDisney e a Versailles, não?!

Pelo meio,Cobb vai roubando umas ideias... Supostamente, ele é muito bom no que faz, o melhor! No entanto, está constantemente a pôr em risco toda a sua equipa só porque a esposa não o larga durante os sonhos! Também sempre que o vemos em acção, há qualquer coisa que falha... Das duas uma, ou ele não é assim tão bom, ou então, os ladrões de sonhos são uma classe muito fraquinha!

Entretanto, aparece o anjinho da guarda, sob a forma da estranha Ellen Page (Ariadne), que parece uma criancinha cabeçuda, magrinha e com um andar demasiado masculino. Mas pensando melhor, talvez faça sentido! Afinal de contas, costuma dizer-se que os anjos não têm sexo... Neste caso, parece-me que criaram uma versão híbrida de anjo, onde não se percebe muito bem o que aquilo é: uma mulher num corpo de homem, ou um homem de cabelo comprido?... Deixo à vossa consideração.

Quanto à esposa de Cobb, a Mal, julgo que não faz muito sentido a Marion Cotillard aparecer com o mesmo penteado que usava no Public Enemies, um filme histórico, cuja acção decorre nos anos 30. De facto, não se sente grande diferença entre esse papel e este que representa em Inception! Nos dois, usa o mesmo penteado, a mesma maquilhagem, e até as roupas são relativamente parecidas... Podem sempre alegar que tudo o que é Vintage está na moda, e que por isso faz sentido ela dar uns ares às divas do século passado...

Por fim, toda a motivação da história me parece ridícula! Resumindo: é suposto implantarem na cabeça do herdeiro de uma monstruosa fortuna a ideia de dissolver todo o império que o pai construiu. Até aqui tudo bem, é normal que um pai eduque orgulhosamente o seu filho no sentido de este perpetuar os negócios de família da melhor forma. Mas é claro que esta não é uma história normal e por isso, o pai, moribundo, detesta o filho, acha-o fraco e pouco merecedor do seu afecto... Sendo assim, temos um filho despeitado com uma fortuna nas mãos que pode estoirar até ao fim dos dias sem passar qualquer tipo de necessidades, algo que faria com que o paizinho desse muitas voltas no caixão... Posto isto, seria assim tão necessário implantar alguma ideia naquela cabeça? Quanto a mim, julgo que bastaria fazerem-lhe uma boa proposta monetária para adquirir parte das empresas e arruinar-lhe assim o monopólio! Mas assim já não havia blockbuster de Verão, não é verdade?!

Viva a manipulação das massas! É nestes momentos em que dou valor àquelas aulas de Teorias da Comunicação em que parecia um burro a olhar para um palácio! Agora, com o devido distanciamento, compreendo perfeitamente conceitos que me eram tão abstractos como manipulação e persuasão.

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