E agora segue a história...
Capuchinho Vermelho numa nova versão!
Rita Red Trench Coat e a sua família tinham-se mudado recentemente da Escócia, daí a origem do nome “Red Trench Coat”.
Rita fazia jus ao seu nome e usava sempre uma gabardine encarnada, mas o detalhe estava no interior. É que ela descendia de um antigo clã escocês e por isso o forro do casaco apresentava um padrão de xadrez único, que apenas os Red Trench Coat podiam trajar.
Mas o uso da gabardine tinha também um propósito mais prático uma vez que estando a viver no Gerês dava-lhe jeito um casaco impermeável. Além disso, se por algum motivo ela se perdesse seria bastante mais fácil encontrá-la numa zona em a cor dominante é o verde da vegetação. E agora podem pensar “Ah e tal… Mas se esta história pretende ser moderna, ela podia sempre sacar do telemóvel e enviar um sms grátis para alguém a ir buscar, ou melhor ainda, os próprios telemóveis já têm muitas vezes GPS integrado e a Rita podia guiar-se por aí…”. E eu respondo: “Sim, tudo isso é verdade, mas e se ela ficar sem rede? Ou sem bateria? Ou se o GPS não apanhar sinal de satélite? Por isso, mais vale jogar pelo seguro e vestir a bela da gabardine encarnada, até porque o Benfica anda em grande e os trench coats estão na moda!”
Voltemos então à história.
Na escola, Rita Red Trench Coat era a miúda mais popular. É normal, tendo em conta que as outras raparigas andavam com umas samarras de lã vestidas que não as favoreciam em nada, em vez disso, davam-lhes a aparência de sacas de batatas.
Sendo ela tão popular, naturalmente, tinha todos os rapazes presos pelo beicinho. Os irmãos Cabrito não eram excepção. Ambrósio, Basílio, os gémeos Camilo e Danilo, Edgar, e os também gémeos Felisberto e Gilberto, mais conhecidos como os “Sete Cabritinhos”, em alusão evidente a uma outra história infantil que também envolve um lobo mau, andavam perdidos de amores pela Rita e a sua gabardine encarnada.
Mas havia alguém que não estava a gostar nada desta situação, uma tal de Carina Vanessa Lobo, filha do Presidente da Junta lá da terriola, e que via agora o seu território ameaçado por uma “estranjuca” cujo sobrenome nem conseguia pronunciar.
Para piorar as coisas, Carina Vanessa era loucamente apaixonada por Basílio Cabrito, o mais jeitoso dos “Sete Cabritinhos”, que por sua vez andava de queixo caído por Rita.
A jovem Lobita sabia que tinha de pôr as garras de fora rapidamente caso não quisesse perder a sua presa. Vai daí, armou um esquema que consistia em deportar a rival para a sua terra natal, a Escócia, e de preferência confiná-la às paredes frias de um reformatório. Como sabia que Rita ia todas as semanas visitar a avó, que vivia em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês, a ideia era colocar-lhe na mala uns cogumelos alucinogénicos ilegais e denunciá-la às autoridades competentes.
Se assim o pensou, melhor o fez… Ligou ao Óscar Lenhador, o seu fornecedor habitual de substâncias ilícitas (adoro este palavreado técnico!), e amigo colorido (já que Basílio não lhe ligava nenhuma e ela tinha de afogar as mágoas de alguma forma), encomendando-lhe uma dose suficiente para incriminar a mais singela das criaturas. Até o Bambi ou o adorável coelhinho Tambor, se fossem apanhados com tal quantidade, nunca mais sairiam de trás das grades.
O plano continuou sobre rodas e Carina Vanessa escondeu o carregamento de cogumelos na mala catita de Rita precisamente no dia em que esta planeava ir visitar a avó. Mas, a pequena Loba em pele de cordeiro tinha uma língua mais comprida do que a de um papa-formigas e em vez de ficar caladinha (porque um segredo só se mantém secreto se apenas uma pessoa o souber, aprendi eu às uns tempos) contou tudo ao seu dealer/amigo colorido.
A parte que ela desconhecia (porque ao contrário dela, Óscar mantinha muitas histórias em segredo) é que a avó de Rita e a grande matriarca da família Red Trench Coat, era também uma “ganda maluca” e uma das suas melhores clientes. Vai daí, o pequeno mafioso contou tudo à senhora. Esta não foi de modas e disse-lhe exactamente o que fazer: os cogumelos alucinogénicos deveriam ser-lhe entregues a ela e para substituir os de Carina Vanessa entregou-lhe uns cogumelos secos que ela tinha comprado no supermercado e que estavam para lá arrumados na despensa para serem usados para acompanhar uma bela gelatina de fígado, prato típico escocês.
A meio do caminho para casa da avó, Rita foi interpelada por um grupo de polícias que tinham recebido uma denúncia anónima referente a uma “indivídua” de gabardine encarnada que, supostamente, levava um carregamento de substâncias ilícitas (volto a dizer: adoro termos técnicos!) dentro da mala.
Rita, que pensava não ter nada a temer, deixou-os revistar a mala… E eis que deram com os cogumelos… Mas rapidamente perceberam que de alucinogénicos não tinham absolutamente nada!
Conclusão: dias mais tarde, quando Carina Vanessa, furiosa por o seu plano não ter resultado, chegou a casa, encontrou uma bela pizza 4 Estações ainda quentinha em cima da mesa. E ela, que em momentos de maior irritação se desforrava na comida, não resistiu e devorou a pizza em três segundos, sem sequer se aperceber que estava carregadinha de cogumelos…
Os pais foram dar com ela a arrancar o estuque da casa e a comê-lo, dizendo que sabia a galinha estufada. Carina Vanessa acabou por ser internada numa clínica de reabilitação/hospital psiquiátrico e por lá ficou alguns anos, até aprender a ter juízo e a não pisar os calos aos outros. Nunca se soube como é que a pizza lá foi parar, mas eu tenho cá as minhas suspeitas que a matriarca Red Trench Coat teve qualquer coisa a ver com isso…
Rita, que apesar de ser a protagonista nesta história, acaba por ser abafada pelas outras personagens bem mais interessantes, continuou a sua vidinha descansada até entrar para a faculdade na Escócia, onde conheceu Tom Wolf, um professor trintão e jeitoso que lhe deu a volta à cabeça… Mas isso já é outra história!